segunda-feira, 12 de outubro de 2009

quarta-feira, 23 de julho de 2008

(re)Maracangalha



{ Publicado originalmente a 26 de Outubro de 2007 }

Maracangalha é o nome do campo de futebol estádio com relvado de betão que existe por cima da garagem do nº1 da Rua Cidade de Bolama (e bem visível da curva da Rua Vila de Catió).


O Maracangalha (postador) era um craque!

Apesar dele não assumir a sua condição de excelente:


- guarda-redes (assim tipo Zé Gato),

- defesa (estilo baseado no Freitas-ou-passa-homem-ou-passa-bola-os-dois-nunca!),


- centro-campista (o Toni dos Olivais)


- ou mesmo avançado (ainda hoje toda a gente se lembra do seu estilo aguerrido muito parecido com o do Néné).


Jogava bem em qualquer posição.
O sonho de qualquer treinador.

Só mesmo o Brynner e o Toninho Barrigana rivalizavam com ele!


Eram sempre os primeiros escolhidos.

E todos nós queríamos ter a sorte de ficar na mesma equipa que eles.

PUBLICADA POR BEIRA EM 26.10.2007, 9:18.


ALGUNS COMENTÁRIOS:

bafata disse...
Maracangalha, Breyner, Barrigana, Travassos e Peyroteo ??
26 DE OUTUBRO DE 2007 11:39  

joão belo disse...
agora me lembro, a primeira vez que joguei no Maracangalha foi com o João Barrigana. Devia ser em 73/74 e provavelmente era a equipa de iniciados do Maracangalha.
Depois voltei a repetir pela Vila Catió, muito mais tarde, uma vez, fiz equipa com o Toninho, o Paleta, o Lingras, o Lizé, o Cantinho, o Sabo. Eheheheh, memória, eheheheh!
26 DE OUTUBRO DE 2007 13:29  
 
Maracangalha disse...
O gajo dos "retratos psicológicos" tá-se a passar.
26 DE OUTUBRO DE 2007 16:12
 
Fulacunda disse...
não sei porquê. Eu sempre achei que tu eras o melhor dos bonecos da bola. Tu ... e ele. O gajo era tb um autêntico Liedson
26 DE OUTUBRO DE 2007 16:51  
 
Largo das Mamas disse...
...
Quanto às habilidades/adjectivos futebolísticas do Maracangalha, corroboro em tudo.
26 DE OUTUBRO DE 2007 22:34
 
intrusa disse...
Já lá fui ver o Maracangalha no passeio a seguir ao jantar e devia mesmo ser óptimo para jogar, mas não perdiam muitas bolas para estrada? o muro é mto baixinho... qualquer remate ia para lá baixo à estrada.
26 DE OUTUBRO DE 2007 23:40
 
Xai Xai disse...
intrusa: pensas que os encómios que aqui se produziram eram fantasia juvenil? o calibre dos craques era tal que a bola só levantava para encontrar uma cabeça goleadora e mesmo assim com movimento de cima para baixo como mandam as regras.
fula: não podes chegar aqui e ofender a torto e a direito. chamar liedson a alguém é pior que....
27 DE OUTUBRO DE 2007 0:14  
 
Beira disse...
Não se jogava no campo todo e desse lado (nascente) a baliza (duas pedras no chão) estava bem afastada (15-20 m) da grade que protegia o estádio.


Mesmo assim de vez em quando lá se ia buscar uma bola à estrada.


E ainda havia outro problema. Quem está no estacionamento da Catió e olha para o estádio pode ver do lado direito, mesmo ao lado do relvado dos prédios, uma antiga rampa que foi tapada. Pois quando aí se jogava a rampa não estava tapada e era muito fácil que a bola aí fosse parar. Lá tinhamos de saltar o muro e descer até ao fundo da rampa para ir buscar a bola.
27 DE OUTUBRO DE 2007 14:11
 
Beira disse...
Quanto a eu estar a "passar-me" é fácil de explicar.


O Maracangalha nunca foi um craque da bola.
Safava-se, mas também não era tão mau como o Brynner (e não Breyner, assim conhecido por ter rapado o cabelo e ter ficado parecido com o actor Yul Brynner) ou o Toninho B (as botas que ele usava eram mesmo ortopédicas?).


Os benfiquistas que por aqui param devem ter achado que, com aquelas comparações (Zé Gato, Toni e Néné, que o Freitas era azul e branco!), o rapaz era mesmo um génio do cauchu.
Era para gozar convosco pois se ele fosse mesmo bom os nomes seriam Damas, Alhinho, Vagner e Yazalde!!!


Esclarecidos?
;-)
27 DE OUTUBRO DE 2007 14:24  

Beira disse...
Um outro pormenor que convém esclarecer.

Os irmãos Van Dunen Barrigana eram 4.

O Pedro era o mais velho (e pesado) e jogava em força, o João (da minha idade) era mais cerebral e jogava bem, o Paulo (que fez nome no atletismo nacional) era atlético e jogava bem, e o Toninho, o mais novo, não era dotado para o desporto mas à defesa até conseguia resultados pois ninguém se queria aproximar dele (ou seria das botas??).

Em 76 mudaram de bairro e nunca mais soube nada deles.
Só mesmo os feitos do Paulo no atletismo.
27 DE OUTUBRO DE 2007 14:36  

serafim saudade disse...
Beira, o Pedro Barrigana jogava em força e em grito longo, afastando (via susto alheio) os petizes da frente. Fazia parelha com o Pignatelli, um meio-queque que emigrou para o Brasil para o Maracanã, e que não dava confiança ao pessoal. Além disso tinha uma guitarra eléctrica que me diziam ser uma Fender (sabia lá eu o que isso era ...) O melhor do Marancaglha (ou o pior no registo do post) era o Mesquita (João António?), um artista da bola que largou as chuteiras quando começou a namorar a bela loura do andar em baixo dele. Cedeu o trono ao "Optilon ... fuça, fuça e não se cansa", o grande Fanã, um antecessor do Futre (fintava 11 numa cabine telefónica e falhava o passe), um extremo voluptuoso que só entregava a bola ao seu ponta-de-lança de eleição, exímio especialista na mama, o Puto Zé [que levava porrada quando falhava o golo - e levava muita]. O Pai d'Optilon, o lendário Sô Manél, ia assistir a muitos jogos, orgulhoso do filho e até imaginando-o futuro titular do Oriental de Marvila. 
Da dinastia Barrigana registe-se que o João B. era uma maravilha de um tipo mas na bola tinha prosápias de intelectual (play-maker) sendo um bocado para o nabo. Depois, presumo que já não jogando, trabalha(va) na produção da RTP e apanhei-o na (não Rua) Cidade de Maputo há 10 anos em deslocação profissional [há tipos que estão na mesma] - e vio-o este Verão aí, à frente da CGD na rua, mas não nos falámos, eu ia de carro e fui estúpido para não parar. O Paulo B. era bom de bola, no jeito que lhe deve ter servido para ser recordista de desportos sem bola. Quanto ao Toninho B. acertaste em cheio, era um defesa coriáceo, as suas botas com protector e tudo avassalavam as canelas adversárias. Tinha o senão de abandonar o campo a chorar sempre que o mano mais velho jogava, que ferviam os calduços.

 Registe-se que falo dos verdadeiros donos do Maracangalha, a malta da Bolama, inauguradores. Os "Gordos", os foleiros da Catió, jogavam nas relvas fronteiros aos prédios - mais tarde, já adolescentes os Bolamas penduraram as chuteiras e acenderam os charros e esses catiós avançaram ao cimento adquirindo (pobres) caganças de proprietários. Na seita deles pontificou um tal de Muller, que veio a ser proto-profissional no Sport Lisboa e Olivais, e lembro que jogava bem um tal de Cá (?) que encontrei décadas depois como excelso livreiro (um gajo que vende e percebe de livros) nas Amoreiras. E um tal de Gadocha, pálida sombra do nosso Fanã, que se tornou num barril [há gajos que continuam na mesma] e com o qual embarrilei ene cervejas no tempo do Pinto (é o irmão do "Engenheiro" Vitor).
3 DE NOVEMBRO DE 2007 0:36  

Beira disse...
São tantos os nomes que poderia deixar escapar.


Que o Maracangalha era do povo, apesar de ser um pouco mais nosso do que dos outros.


Mas voltemos aos artistas que por lá jogaram.
Referiste o Mesquita mais velho. João António, tal como disseste, que infelizmente seguiu as pisadas do Iordanov pois sofre de esclerose múltipla. (deveríamos fazer um jogo de homenagem?)


Já que referi os irmãos Barrigana, quais Dalton do Maracangalha, agora convém falar dos irmãos Dá Mesquita. Que eram só dois.

O João António jogava realmente bem, mas não devemos esquecer que tinha mais uns anos que nós e nessas idades 3 anos de diferença era muita coisa. Acho que não foi só a loura do andar de baixo a desviar o rapaz da nobre tarefa. Também começou a ter concorrência séria. Lembro-me de um tal de Zézé Moreira que impôs a sua classe no relvado de betão. Mas havia mais ases do cauchu...


O Luís Miguel que era da nossa idade também tinha talento para a bola e era mais distribuidor de jogo, com algum talento para centrar. Mas levava o jogo demasiasdo a sério e de quando em vez lá amuava se a coisa não lhe corria de feição.

E quase todos calçavam sapatilhas ou botas Sanjo.
(a Sanjo deve ter feito fortuna com os utentes do Maracangalha que o betão não perdoa...)
5 DE NOVEMBRO DE 2007 9:30  

Serafim Saudade disse...
Notícia trista essa do Mesquita. Eu vi-o há uns meses aí na Bolama e ele ia muito abatido, julguei-o com um esgotamento nervoso. Afinal!? Perde-se a vontade assim deste registo saudoso saudável.


Beira, tens algumas razões: as sapatilhas Sanjo, cujo apogeu não foi na New Wave (sapato branco) mas sim antes (versão bota preto e branco, claro!); tens também no Luís Miguel Mesquita, extremo esquerdo algo britânico, e não só por ser louro; a bela definição dos Dalton do Marancagalha, "estiveste bem"; e, last but not the least, a referência a esse craque da bola de cautchumbo, precocemente retirado, o Zezé Moreira, a saudade desse verdadeiro play-maker, um cerebral box-to-box de contornos maracangalhadamente incomparáveis.


Já qu'isso do maracangalha fosse do povo é mais ou menos. Era de todos, mas havia uns mais todos do que outros.

Lembras bem que o Mesquita era mais velho, mas isso não reduz a sua episódica supremacia. Ele era da idade do Pedro Barrigana, acima descrito tal e qual, e também daquele Pignatelli blasé, bem como do Gorila, que vim a encontrar repetidas vezes em austrais paragens na sua versão Luís Miguel - era (e é) irmão da belíssima Micá, garota vintage que ainda não foi aqui retratada não sei porque (ausência de) critérios. 

Já agora, ó Beira, não consegues uma ilustração do "dois saltos e passos", a mais democrática forma de selecção que se conheceu?

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

PDM



Rosa - área consolidada de edifícios de utilização mista - 2,2
Azul - área consolidada de edifícios de utilização habitacional - 2,0
Azul claro - área consolidada de moradias - 0,7 / 1,0
Amarelo - área de equipamentos e serviços públicos
Verde - área verde de recreio
Verde escuro - quintas e jardins históricos - 0,3

(a vermelho o índice permitido pelo PDM)



PROPOSTA Nº 601/2003

Considerando que:

- O Plano Geral de Urbanização da Zona dos Olivais-Sul, que abrange uma área de 200 ha, foi aprovado por despacho do Conselho de Ministros de 19 de Novembro de 1960, publicado no Diário do Governo, II Série, nº 280, de 2 de Dezembro de 1960;

- Através da Proposta n.º 159/91, a Câmara Municipal, em sua reunião de 30 de Abril, aprovou a operação de loteamento para a Célula G dos Olivais-Sul, integrando 23 lotes e funcionalmente destinada à instalação de um Centro Cívico e Comercial, nos termos do art. 35º do Decreto-Lei nº 400/84, de 31 de Dezembro (Regime Jurídico dos Loteamentos Urbanos então em vigor);

- Em 1993 o Plano Geral de Urbanização da Zona dos Olivais-Sul sofreu uma alteração, proposta pelo então Departamento de Construção de Habitação e traduzida na Planta n.º 50171, através da qual se permitiu a mudança de uso terciário para uso habitacional;

- Posteriormente, e por imperativo legal, foi emitido em 1999, à luz do Decreto-Lei nº 448/91, de 29 de Novembro, o Loteamento Municipal n.º 99/03, composto por 18 lotes, dos quais 6 já haviam sido alienados em 1996, como forma de pagamento da execução do prolongamento da Av. dos Estados Unidos da América;

- Não se verificando qualquer dos pressupostos da caducidade da licença de loteamento previstos quer no Decreto-Lei nº 400/84 quer no Decreto-Lei nº 448/91, a operação de loteamento em apreço não está abrangida pelo Regulamento do Plano Director Municipal, mantendo-se em vigor as respectivas especificações, em toda a sua extensão (v.g., número de lotes e respectivas áreas, finalidade, área de implantação, área de construção, e número de pisos de cada um);

- Por outro lado, o projectado Centro Cívico e Comercial de Olivais-Sul, aberto a funções diversificadas (v.g., comércio, escritórios, hotéis, equipamentos culturais e recreativos) e concentrado num único quarteirão do Bairro dos Olivais-Sul, visa dar resposta às necessidades do mesmo, cuja utilização é predominantemente habitacional e se estende por cerca de 200 ha;

- Cerca de 50% do Centro Cívico e Comercial de Olivais-Sul está já construído, e nada havendo a objectar do ponto de vista do enquadramento jurídico-urbanístico da operação de loteamento que o prevê, se impõe que se dê sequência à sua conclusão, designadamente na perspectiva do interesse público de dotação do Bairro de outras valências para além da habitação e complementares desta, da coesão do conjunto e da harmonização da silhueta urbanística do quarteirão;

- Do loteamento restam, pois, 12 lotes municipais que reúnem condições para o efeito;

- A alienação por hasta pública favorece os princípios gerais da concorrência, da igualdade, da imparcialidade e da transparência da actividade e do procedimento administrativos, funcionando também como teste de mercado,

Tenho a honra de propor que a Câmara delibere, ao abrigo das disposições conjugadas dos artigos 64º, n.º 6, alínea a) e 53º, n.º 2, alínea i), ambos da Lei nº 169/99, de 18 de Setembro, submeter à Assembleia Municipal:

1. A alienação, sob a forma de hasta pública, dos lotes de terreno municipais identificados com os n.ºs 99/026, 99/027, 99/028, 99/029, 99/030, 99/031, 99/032, 99/033, 99/034, 99/038, 99/039 e 99/040, na cópia da planta n.º. 99/031/04 do ex-Departamento de Gestão Imobiliária, situados às ruas Cidade de Bissau e Cidade de Bolama;

2. Que se fixe, como preço base de licitação, o valor de € 250,00/m2 de área bruta de construção para o lote n.º 99/031 destinado a garagem e estação de serviços em subsolo e, para os demais lotes, o valor de € 450,00/m2 de área bruta de construção acima do solo, devendo a alienação respeitar as Condições Gerais e as Condições Especiais constantes do documento anexo, donde resultam os seguintes valores base por lote:

Lote n.º 99/026: € 2.296.350,00
Lote n.º 99/027: € 2.162.700,00
Lote n.º 99/028: € 4.354.200,00
Lote n.º 99/029: € 2.162.700,00
Lote n.º 99/030: € 2.211.300,00
Lote n.º 99/031: € 2.025.000,00
Lote n.º 99/032: € 2.370.600,00
Lote n.º 99/033: € 2.370.600,00
Lote n.º 99/034: € 2.370.600,00
Lote n.º 99/038: € 1.741.500,00
Lote n.º 99/039: € 1.741.500,00
Lote n.º 99/040: € 1.741.500,00
Total=€27.548.550,00

(Processo Privativo n.º 87/DPI/2003)

Sala de Reuniões da Câmara Municipal de Lisboa, em 23 de Outubro de 2003



Lote 99/026:
Local: Rua Cidade de Bolama e Rua Cidade de Bissau
Área do lote: 823 m2
Área de construção: 7.983 m2, repartida por:
Habitação/Hotel: 4.446 m2
Comércio/Serviços: 657 m2
Estacionamento: 2.295 m2
Circulações públicas: 585 m2

Índice de construção total = 9,7
Índice de construção acima do solo = 6,2



Lote 99/027:
Local : Rua Cidade de Bolama e Rua Cidade Bissau
Área do lote: 625 m2
Área de construção: 7.041 m2, repartida por:
Habitação/Hotel: 4.122 m2
Comércio/Serviços: 684 m2
Estacionamento: 1.875 m2
Circulações públicas: 360 m2

Índice de construção total = 11,2
Índice de construção acima do solo = 7,6



Lote 99/028:
Local : Rua Cidade de Bolama e Rua Cidade de Bissau
Área do lote: 983 m2
Área de construção: 13.030 m2, repartida por:
Habitação/Hotel: 9.676 m2
Estacionamento: 2.949 m2
Circulações públicas: 405 m2

Índice de construção total = 13,2
Índice de construção acima do solo = 12,8



Lote 99/029:
Local : Rua Cidade de Bissau
Área do lote: 625 m2
Área de construção: 7.041 m2, repartida por:
Habitação/Hotel: 4.122 m2
Comércio/Serviços: 684 m2
Estacionamento: 1.875 m2
Circulações públicas: 360 m2

Índice de construção total = 11,2
Índice de construção acima do solo =7,6



Lote 99/030:
Local : Rua Cidade de Bissau
Área do lote: 625 m2
Área de construção: 6.996 m2, repartida por:
Habitação/Hotel: 4.230 m2
Comércio/Serviços: 684 m2
Estacionamento: 1.569 m2
Circulações públicas: 513 m2

Índice de construção total = 11,2
Índice de construção acima do solo = 7,8



Lote 99/031:
Local : Rua Cidade de Bolama
Área do lote: 2.916 m2
Área de construção: 11.340 m2, repartida por:
Garagem /Estação de serviços: 8.100 m2
Circulações públicas: 3.240 m2

Índice de construção total = 3,9
Índice de construção acima do solo = 2,7



Lote 99/032:
Local : Rua Cidade de Bissau
Área do lote: 1.008 m2
Área de construção: 8.628 m2, repartida por:
Habitação/Escritórios: 3.564 m2
Comércio/Serviços: 1.704 m2
Estacionamento: 3.360 m2

Índice de construção total = 8,6
Índice de construção acima do solo = 5,2



Lote 99/033:
Local : Rua Cidade de Bissau
Área do lote: 1.008 m2
Área de construção: 8.628 m2, repartida por:
Habitação/Escritórios: 3.564 m2
Comércio/Serviços: 1.704 m2
Estacionamento: 3.360 m2

Índice de construção total = 8,6
Índice de construção acima do solo = 5,2



Lote 99/034:
Local : Rua Cidade de Bissau
Área do lote: 1.008 m2
Área de construção: 8.628 m2, repartida por:
Habitação/Escritórios: 3.564 m2
Comércio/Serviços: 1.704 m2
Estacionamento: 3.360 m2

Índice de construção total = 8,6
Índice de construção acima do solo = 5,2



Lote 99/038:
Local : Rua Cidade de Bolama
Área do lote: 1.512 m2
Área de construção: 7.370 m2, repartida por:
Habitação/Escritórios: 2.520 m2
Comércio/Serviços: 1.350 m2
Estacionamento: 3.500 m2

Índice de construção total = 4,9
Índice de construção acima do solo = 2,5



Lote 99/039:
Local : Rua Cidade de Bolama
Área do lote: 1.512 m2
Área de construção: 7.370 m2, repartida por:
Habitação/Escritórios: 2.520 m2
Comércio/Serviços: 1.350 m2
Estacionamento: 3.500 m2

Índice de construção total = 4,9
Índice de construção acima do solo = 2,5



Lote 99/040:
Local : Rua Cidade de Bolama
Área do lote: 1.512 m2
Área de construção: 7.370 m2, repartida por:
Habitação/Escritórios: 2.520 m2
Comércio/Serviços: 1.350 m2
Estacionamento: 3.500 m2

Índice de construção total = 4,9
Índice de construção acima do solo = 2,5



MÉDIA DO ÍNDICE DE CONSTRUÇÃO TOTAL = 8,4
MÉDIA DO ÍNDICE DE CONSTRUÇÃO ACIMA DO SOLO = 5,6
(exclui estacionamento e circulações públicas)


Como o loteamento não está abrangido
pelo regulamento do PDM,
o índice passa de 2,2 para 5,6 (no mínimo!).

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Ecossistema Comunicacional (Continuação)

(Foi no princípio da década de noventa que, na actividade de formação em animação sócio cultural, comecei a explorar este conceito, o de ecoterritório para tentar organizar as ideias sobre as possibilidades de intervenção num determinado contexto comunitário. Associado a este, surgiu-me um outro, o de ecossistema comunicacional, que me permitia propor aos meus alunos a ideia de que o animador sócio cultural mais não era do que alguém que, munido dos seus conhecimentos técnico-cientificos e face a uma comunidade, que enquanto sistema de comunicação apresentava alguns problemas de funcionamento, iria trabalhar para tentar restaurar os elos e as ligações quebradas, potenciando, valorizando e implicando os diferentes elementos da comunidade. )

Esta ideia muito simples, e até, hoje, confrangedoramente redutora, permitiu-me no entanto superar uma atitude muito em voga na prática da animação sócio cultural, e que se caracterizava tanto por uma grande euforia dos seus aparatos técnico e cientificos (muito pouco disponíveis para se auto-descobrirem enquanto dispositivos ideológicos) como por um doce paternalismo, eivado do muito romantismo com que a acção cultural é, muitas vezes, entendida no conjunto das outras actividades humanas. Ancorava-me assim na metáfora de que o animador, que também é um poeta do meio, era essencialmente alguém afecto à engenharia da comunicação.
Quando nos anos 90 calhou que a minha actividade profissional me fizesse reencontrar como o bairro, levando-me a estudá-lo e a procurar compreendê-lo, colaborando no âmbito do projecto Olivais Vivo num levantamento dos espaços, das dinâmicas culturais do Bairro, já estavam em marcha os projectos para o Centro Cívico e Social. Tenho uma imagem algo difusa de muito do que me aconteceu nessa década (1) embora tenha presente o quanto tive de moderar o forte conflito interno entre o animador e formador e entre o habitante do bairro.
Enquanto habitante do bairro apetecia-me chamar a polícia. Sentia claramente que era um roubo ao nosso futuro. Tenho dois hábitos terríveis desde miúdo. Um o de pensar que o mundo também é meu. Não sei porquê, sou, dizem-me sujeito medianamente lúcido e nunca habitei o discurso meio esquizóide do eu e os outros. O eles, o caralho! Comigo sempre foi nós. Nós terra. Nós céu. Nós futuro. E o outro hábito, que felizmente já abandonei, era de sonhar que era o super-homem e que resolvia lá, entre sonhos, o que no real custava um pouco a digerir. Não vos vou contar em quantas noites de raiva e de fúria não deitei abaixo com o meu sopro as torres dos olivais, e queimei com o meu olhar raio x todos os cabrestos que governaram a sua vidinha à conta dos negócios com aquilo que devia ter sido entendido como um recurso que afectava a vida de todos nós.
E se enquanto oliveira enxertada de verde eu andava em estado furibundo, enquanto animador eu sabia que já estava tudo misturado. Bastava olhar para a cara das pessoas. O Centro Comercial ía mudar-nos a vida. Ia modernizar-nos. Isso era gente, muita gente. Gente que tinha os seus negócios, gente que podia fruir mais o bairro, gente que podia vir cá morar, gente que poderia ir a um cinema, a uma livraria sem ter de sair do bairro. Um animador que não tenha gente nos olhos, nas mãos e no pensamento, bem pode dispensar tudo o que os livros e a vida lhe ensinou. E depois do gigante ter entrado, pensar o bairro é com ele, com esse gigantesco pé de feijão que não se sabe bem onde pode ir dar. Não sou da ciência dos catrapilas, sejam mecânicos ou mentais. Por isso o centro comercial e residencial com uma volumetria excessiva, com uma grande muralha sem espaços de respiração e circulação entre a rua cidade de bissau e a rua cidade de bolama, está lá, é um dado a contar. Os Olivais Sul, para o mal e para o bem, já são, simultaneamente, um bairro com uma estrutura polinucleada e um organismo centralizado e centralizador.
Parece-me que a primeira coisa que temos de perceber é como é que aquele espaço trabalha o modo como nós vivemos. Por contraponto ao bairro em que muitos de nós crescemos. Como é que ele introduz dinâmicas que criando um outro bairro dentro do bairro tendem a ensurdecer este último. E também como é que este espaço pode trabalhar positivamente a sua integração no bairro. Eu creio que há dois tempos nessa possibilidade: a primeira é a de neutralizar os efeitos negativos que as dinâmicas do Centro Comercial introduzem na vida social e cultural do bairro. A segunda é a de conseguir tirar efeitos positivos da existência do Centro Comercial. Estes dois momentos correm lado a lado.
O bairro onde nós crescemos estava, como já se escreveu e anotou pelos documentos da época, descompensado no seu núcleo central, ocupado durante muito tempo com baldios e instalações provisórias. Não poderemos saber o que seria a nossa vida se esse centro estivesse construído de raíz. Mas podemos perceber dinâmicas que se criaram por causa disso. E para isso basta um pequeno acerto de memória: todos nós crescemos num bairro pluricentrado. Conseguimos identificar em cada núcleo do bairro a sua vida comercial, as suas escolas. E para além disso foram-se construindo outros movimentos regulares na vivência do bairro. Tinhamos a zona dos cafés, ao pé da igreja velha. Tinhamos a zona verde, de desporto, no Vale do Silêncio. Tinhamos uma zona comercial, no Largo do Ferrador. O posto de saúde, na zona dos Candeeiros. As várias sociedades recreativas, da qual a mais prestigiada era a SFUCO. Independentemente de algumas imperfeições que este retrato em movimento possa ter, todos nós temos a noção de que a vivência do bairro implicava o uso de várias zonas do bairro pelo que quotidianamente estávamos habituados a viver o bairro de uma forma descentralizada. Foram muitos anos assim. As nossas estruturas mentais habituaram-se a viver assim o bairro, valorizando sobremodo o espaço-rua (há outros factores, o clima, a predominância de pessoas vindas das zonas rurais, etc, bem sei), os corredores de acesso entre quarteirões, as grandes artérias que os agrupam.
Não é assim o bairro de hoje. Esta tendência da centralização, já vinha detrás. Vinha de sempre. Aliás, poderemos pensar que esta tendência para a centralização está na forma como toda a nossa sociedade está organizada e assim, as estruturas, os equipamentos, o território edificado, fazem repercurtir esse modo de nos organizarmos. Centralização, centralidade, centrismo, centrão, são conceitos com os quais já não conseguimos compreender a nossa vida de todos os dias e que de certa forma mimetizam até a forma como o nosso corpo biológico se organiza. Só que a ciência dos lugares mudou. Explora novas vertentes da ideia de centro, que parece ser indispensável à nossa estrutura cognitiva, presente na linguagem, no afecto, na economia, na política, na cultura, e é trabalhada também noutras dimensões, menos literais. De uma certa forma podemos pensar que a ideia de pluricentração mais não faz do que tentar acasalar dois conceitos, a centralização e a descentralização.
Quando eu hoje digo à minha mãe que vou aproveitar o fim de semana de pai para levar o meu filho ao bairro e pergunto se ela quer vir ter connosco, que vamos fazer um piquenique ao vale do Silêncio, ela responde-me de imediato que vamos ao centro, que ela pode deixar o carro no parque de estacionamento, e que depois lá em cima o pequenote se entretem com os macdonalds que lhe dão um prémio enquanto ela vai buscar uma dose a um restaurante e que depois comemos ali. Eu estremeço de felicidade diante de tanta épica, de tanto ar livre, de tanto progresso, principalmente quando vejo tantas famílias a fazer o mesmo e lá vou pensando no próximo post que escreverei sobre a minha nostalgia dos tempos antigos. Até me consigo contentar para o facto de o nosso Shopping ao menos abrir a careca para o céu. E apercebo-me que para a minha mãe os Olivais tem dois caminhos. Um para a igreja nova, mesmo atrás de sua casa. O outro para o Centro Comercial. Em dias de neto lá lhe consigo achar um terceiro: o caminho para a Quinta Pedagógica.
A minha mãe não é uma espécie rara e o modo como ela vive o bairro é um pouco o modo como as outras pessoas o vivem. Ao fim de semana quando estou no bairro passeio com o meu filho mostrando-lhe os meus caminhos, andando a pé. Vamos aos parques infantis. Têm poucas crianças. Os largos, as pracetas, estão desnudas. A ideia de que o parque residencial dentro do centro comercial vai trazer mais gente para viver no bairro surge em contramão com aquilo que são as tendências com que cada um de nós organiza as nossas vidas. Falando com os próprios lojistas até eles se queixam de que não é liquido que essas pessoas dêem ânimo à vida comercial do centro. Entram e saiem por um subterrâneo e abastecem-se noutras grandes superfícies. Entalado, enquanto grande superfície, entre um Colombo e principalmente um Vasco da Gama, o Centro Comercial já teve melhores expectativas de futuro.
Quando agora voltei a passar mais pelo bairro, e voltei a ele muito recentemente, houve uma coisa que me espantou e que eu não percebi. Os espaços ao ar livre, o mobiliário urbano, os parques infantis, estavam na mesma. Não havia traço de animação, de frequência, de dinamização dos mesmos. Nalguns até um sinal de desmazelo, de usura, de não requalificação, falta de manutenção. O que mais me espantou é que entre 90 e 92, quando acompanhei mais de perto o bairro, havia projectos e ideias para a animação do bairro. Respirava-se um clima de uma maior iniciativa. As pracetas e largos apareceram com mobiliário urbano, surgiram alguns parques infantis. O vale do silêncio foi dotado de equipamento desportivo. Para além das mudanças resultantes das novas vias de acesso e transporte, de carreiras dentro do bairro, Procurei um edital e lá estava, como presidente o nome do mesmo autarca que quando eu saí dos Olivais estava cheio de ideias, de projectos. Pensei cá para mim, o tipo cansou-se de ser presidente, é o que é. Mas depois percebi que não. A Junta de Freguesia só está a interpretar, reforçando-os pela negativa, os fluxos de população. Se as pessoas não frequentam o bairro de uma forma pluricentrada, porquê gastar recursos e meios e ideias que não vão ter nenhuma visibilidade política? Ou que poderiam ter um efeito politico negativo, já que face a uma quebra acentuada de vendas, os comerciantes poderíam reclamar que ainda por cima lhes estão a diminuir os poucos movimentos de população que têm.
Pode-se perguntar: mas no tempo em que nós crescemos no bairro havia essa tal de animação? O vale do silêncio estava cuidado? De que parques infantis é que falas, ó João Belo? Do lago de pedras, água suja e ranho no Largo do Ferrador? Dos baldios, das hortas? É claro que não. Os equipamentos desportivos que eram negociados em décadas pelos responsáveis das escolas e da autarquia desapareciam e eram vandalizados num ápice. Só que naquela altura a ciência dos espaços era ainda muito insuficiente e resumia-se a um pôr verde nos canteiros e um consequente "não pisar a relva". Hoje ir ao Vale do Silêncio, querer beber água num chafariz, ir ao campo de jogos, ver as várias estações de jogging, é perceber num instante a incúria e o desleixo a que aquele espaço está votado.
Ou seja: por um lado temos um bairro que cresceu pluricentrado. Por outro lado temos um organismo - dizem que é uma espécie de bairro - que tende, literalmente, a centralizar toda a vida do bairro. Esse organismo tende, naturalmente, a ser um olho de boi gigantesco que sonega todos os bilas à volta. Tudo isto é maximizado porque, por outro lado, se deixa de investir nos outros espaços.
O que é preciso começar a fazer é o óbvio: insistentemente criar formas de ligar o centro aos vários espaços, criando dinamismos que permitam aproveitar os recursos do bairro na sua implicação. Por exemplo: colocar os clubes desportivos a dinamizarem actividades desportivas no Vale do Silêncio. Danças de salão no Largo do Ferrador. Criando uma verdadeira zona de piqueniques no Vale. Um quiosque. Talvez uma esplanada de verão. Pedir aos músicos da SFUCO que toquem um dia por mês num largo diferente, desde o ferrador, ao largo das sete tetas, ao coreto dos Olivais Velhos, ao largo do Gordo, às pracetas da Gilauto, às próprias esplanadas do Centro Comercial etc. Incentivar as animações por parte dos grupos de teatro amador, dos clubes de teatro escolares ou dos alunos dos cursos de animação e teatro. Fazer sessões de cinema ao ar livre. Inscrever os Olivais na rota de espaços utilizados para apresentação de festivais com espectáculos ao ar livre (dança, teatro, música, cinema). Integrar alguns espaços livres na rede dos jardins virtuais. Fazer visitas pelo bairro, contanto a sua história, passando pelas várias instituições culturais, recreativas. Implicar alguns nomes bem conhecidos, artistas, na dinamização do bairro. Criar actividades lúdicas integrando as famílias. de tudo o que falei quase nada implica grandes recursos e quase tudo assenta na visibilidade para os habitantes do bairro das suas próprias dinâmicas. Fazer espectáculos de música sacra nas igrejas. Trabalhar o núcleo, a partir do núcleo. Criar anfiteatros em espaços ao ar livre. Convidar músicos para ensaiar na rua, artistas plásticos para virem pintar o bairro. Ou seja podemos até respirar de alívio por aquele centro comercial e residencial não ser também um centro cultural, permitindo-nos pensar noutros espaços que diversifiquem a vida cultural.Ocupar as ruas, com festa, poesia, respiração forte.

Viver o bairro em suma. E para isso desenvolver uma consciência crítica sobre o mesmo. Não é possível desenvolvê-la enquanto não se perceber o quanto o que ali está feito foi errado. Que se não foi um crime devia sê-lo. Não sei se todos nós queremos viver no presente. Eu por meu lado não me importo nada de conviver com gente que queira viver no passado. Ou no futuro. Mas sei que todos vivemos no presente e o presente dos Olivais é aquela grande muralha de betão. Mas não só. Os Olivais não são só isso. São o que ainda resta de um bairro que queria crescer de outra maneira. E continuo a pensar ( e a dizê-lo): acho que este espaço é um terreno fértil para que criemos uma consciência comum sobre o bairro que queremos ter. E repito por isso o desafio que já antes aqui tinha lançado.


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(1) Mas ainda me recordo que escrevi dois textos, um o "Tirem as mãos dos Olivais II", que já publiquei aqui e que na altura enviei para o Expresso e para o Público, e um outro, "Maior que as Amoreiras", utilizando uma crónica quinzenal que na altura tinha num jornal regional da zona de Loures, Sacavém, e onde manifestava a minha apreensão por ser dessa forma ("Maior que as Amoreiras!" com que no jornal dos Olivais se apresentava o projecto do Centro Cívico e Social, quando eu esperaria que a Junta fosse o garante de outras condições que não as do gigantismo. E também num texto de teatro que tinha escrito sobre o bairro acabei por introduzir versões cada vez mais críticas sobre o futuro do bairro.














quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Epílogo para um bairro?

"Epílogo



(Acende-se a luz de NO AR na cabine de rádio)



ANIMADOR
DE RÁDIO
Na Noite em Branco continuamos a tratar os sonhos por tu. Amanhã, hoje e ontem. O velho dos esticolicas emudeceu.


Cortaram-lhe a voz. E o bairro? Sobreviverá ao catrapila? Alfredo, 43 anos, vendedor imobiliário. Dá um retoque no cabelo, agita o gel que o segura, sai para a rua esfregando as mãos de contente. Na noite do nosso descontentamento, Alfredo, que também tem direito à vida, esfrega as mãos de contente.


Os descontentes também vivem de dia. Nem são crónicos nem profissionais sofredores. Sofrem agora e sofrem porque sim. Porque as casas, os bairros não morrendo, matam-se. De contentamento e gel, brilhantina q.b. . Quanto baste, Alfredo!


Onde é que tu estás, Alfredo?

Há uns anos atrás o poeta completou a poesia com um apelo: “Falemos de casas”, escreveu. Na Noite em Branco não temos por hábito fazer ouvidos moucos aos poetas . Falemos então de casas. De casas já que de Alfredos estamos conversados.


As casas habitam-se. Com resguardo soalheiro ou batidas pela chuva, as casas vivem-se, uma a uma, no seu abrigo ou incomodidade. Quando mais do que uma se reunem em seu nome chamamo-las de bairro. Os bairros são assim casas que responderam ao apelo do poeta.


Assim também o sangue que escorre da minha mão é vermelho, não importa a cor. E se parar, não foi apenas ele que estacou. Tal e qual as casas, o sangue circula por entre os espaços possíveis . As artérias. Quando morre um homem como o Ai-Ai não morrem as casas . São elas que nos contam a história. Os bairros até quase que sobrevivem ao degredo e à tortura.


Não vos posso explicar porque é que a morte virá quando este líquido viscoso e incerto mandar parar o passo de vagabundo com que tropeço na noite. Também as casas e os bairros não sabem explicar porque é que o bairro esticolica vem vestido para matar. O único animal que tem resposta para tudo está muito ocupado a esfregar as mãos de contente.


Não é Alfredo?


O homem no rap vem a caminho. E já que falamos de casas escutemos mais um pouco esse rumorejar que atravessa a rua. Boa-Noite, Ouvintes de mais uma Noite em Branco.(põe um disco . A bateria ilumina-se. O homem do rap chegou a tempo de cantar)


HOMEM DO RAP

Digo 98 mil nove,é prós putos que não querem comer a sopa, sopa, sopa,Mil Nove Noventa e Oito, incha, incha e rebenta, mas rebenta de tédio e vazio, está a ficar frio, ou será suor, um calafrio na espinal medula?


Digo 98 mil nove, sopa, sopa, sopa, Mil Nove Noventa e Oito é o bairro esticolica, estica e não encolhe, não há chuva que não molhe, os putos querem comer, não querem comer a sopa, Alfredo, os putos querem de querer. O que querem os putos, Alfredo?


Digo 98 mil nove, sopa, sopa, sopa, Mil e Nove e Noventa e Oito quer comer os putos, a sopa quer comer os putos, o prato está frio, vazio, o Alfredo vem aí com a sua voz de rapina, sinto um calafrio na espinal medula, será que não há nada que o Alfredo não engula?


Digo 98 mil nove, sopa, sopa, sopa, É para os putos que não querem comer a sopa, gritava de louco o rouco homem que morreu por dois tostões furados, será também mouco o bairro que vai emudecer por alguns milhões esburacados?





FIM"



In É para os Putos que não querem comer a Sopa.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Ideias para a Zona Central de Olivais

TRABALHOS DE ALUNOS DA ESCOLA DE BELAS-ARTES DE LISBOA NO ANO LECTIVO 1966-67

Docentes: Arq. Nuno Portas, Arq. Carlos M. Ramos

NOTA INTRODUTÓRIA
Pelo prof. Agr. N. Portas


Coube-me a mim a responsabilidade de propor a uma turma de Composição de Arquitectura, III Parte (5º ano), como trabalho para o ano escolar, o tema que motivou as ideias de arquitectura que se apresentam aqui.

Escrevi «propor»: efectivamente, e no inicio do ano, este tema fora apresentado em aula, em paralelo com outro (um centro de recreio de dimensões mais convencionais e programação e ela própria inventiva, por natureza.
O estudo do Centro de Olivais permitia outra abertura sobre a nossa realidade cultural e outra oportunidade – a de alargar horizontes compositivos à medida que se iam detectando as limitações económicas e jurídicas, rotinas administrativas e dos próprios projectistas, etc. que aqui e agora peiam uma arquitectura de «nova dimensão», integradora dos sucessivos escalões do planeamento.

Mas, por outro lado, apresentava-nos desde logo grandes riscos os quais eram, fundamentalmente, os que viriam da indeterminação programática (se se pensa ser «realista» mas não «conformado» com o stato quo) e da dificuldade em controlar adequadamente as diversas soluções pela mesma falta de dados seguros contra os quais se «checkasse» o processo evolutivo de cada aluno.

Não era a primeira vez – e não foi a última – que se deparou a grande contradição de querer lançar um grupo de alunos em aventuras reais, que os empenhassem na reforma da nossa cidade, e nos encontrarmos, ao longo das fases, perante frustrantes falhas de informação sobretudo ao nível do planeamento social e urbanístico.

Porque não era a primeira vez, a previsão destas lacunas, dificilmente ultrapassáveis com os meios didácticos disponíveis, foi confessada, inequivocamente, na primeira mesa redonda com a turma como o grande contra do tema proposto. A turma, avisada e, digo-o agora, avisadamente, optou, apesar de tudo, por ele. «Será um exercício em que a dificuldade em programar é desde logo um dado do programa», foi então dito. E não é esta uma situação tão alienada como pode parecer, antes constitui uma situação que surge cada vez com mais frequência em operações vastas que se têm de processar no tempo apenas ultrapassável com a articulação e equipas interdisciplinares que pressupõem por seu turno uma longa aprendizagem que o isolamento dos cursos de arquitectura em relação à universidade só contribui para retardar.


Exposição da necessidade e busca de informação relevante: Sobre a mesa , dispúnhamos inicialmente do plano, parcialmente concretizado, de Olivais-Sul; do «programa para a zona central» preparado pelo Gabinete Técnico da Habitação, que podíamos considerar base quantitativa suficientemente ponderada; dos primeiros estudos de inquérito por amostragem incidindo sobre a composição demográfica e ocupação dos jovens no Bairro, elaborados no mesmo GTH.

Marginalmente através dos grupos de trabalho formados, buscar-se-iam, a seguir, outros dados de confrontação, agora do Plano Director da Cidade: mapas referentes à distribuição dos diferentes equipamentos na cidade; esquemas de tráfego e das redes de transportes colectivos; algumas previsões de evolução demogreafico-social, etc.

Observação de informação estrangeira relativa a zonas centrais: O estudo por pequenos grupos incidiu sobre uma primeira escolha, relativamente diferenciada que abrange os planos de Hook e Cambernauld (centros britânicos da chamada 3. fase) Leicester (renovação da zona central com base num bem articulado estudo de tráfego) e centros direccionais italianos (significativos do método compositivo de «nova dimensão»). Traduziu-se em alguns textos de síntese e numa sessão de projecções comentadas para a presentação à turma pelas equipas responsáveis do estudo. Fruto desta secção a utilização, por quase todos os autores, do conceito de «comutador» de tráfego e de soluções multiniveis.

Primeira escolha de factores decisivos para a composição
Estudo dos problemas de circulação de e para a zona central e dela para a cidade; critica da localização proposta, em função dos esquemas de tráfego, e da zona de influencia do centro.

Com as propostas deste estudo, a turma decidiu que se desenvolvessem em paralelo soluções para o Centro de Olivais-Sul no terreno (A) e com a escala prevista no Plano GH (Arquitectos José Rafael Botelho e Carlos Duarte) enquanto outros alunos ensaiariam a alternativa (B) de alcance territorial mais vasto Olivais-Norte-Sul e renovação urbana da Encarnaçã. Gravura I

Estudo dos problemas de zonamento e antizonamento – árvores e semi-rectículas, segundo os critérios do ensaio de C. Alexander… tendo-se preparado uma pequena matriz de interacções entre os diferentes equipamentos previstos no programa do GTH que foi utilizada sem grande alteração

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Assim, ficará claro que as soluções não se propõem como as mais realistas para uma exequibilidade imediata – primeiro porque se lutou com excessiva falta de dados de programação, evolução dos consumos e custos de execução; segundo porque, como exercício didáctico se quis levantar um certo numero de condicionamentos, nomeadamente os relativos às quota-partes da intervenção do poder publico ou municipal, que aqui se sobrecarregam, e da iniciativa privada, com a qual a administração contará «naturalmente».

Mas penso que nas mesmas soluções, apesar dos saltos metodológicos a que nos vims, todos, forçados, se antecipam princípios de composição muito validos sejam ao nível da interpretação de finções; da articulação dos diferentes tipos de circulação; do lançamento de sistemas (malhas e faixas, colunas vertebrais de distribuição, etc.) que podem crescer aditivamente ou modificar-se sem perda de coesão; das preocupações de forma dos espaços e imagens à escala do bairro; de aproveitamento das condições topográficas; de urbanidade, em suma.


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in Revista Arquitectura, n. 103 (1968)

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