Docentes: Arq. Nuno Portas, Arq. Carlos M. Ramos
NOTA INTRODUTÓRIA
Pelo prof. Agr. N. Portas
Coube-me a mim a responsabilidade de propor a uma turma de Composição de Arquitectura, III Parte (5º ano), como trabalho para o ano escolar, o tema que motivou as ideias de arquitectura que se apresentam aqui.
Escrevi «propor»: efectivamente, e no inicio do ano, este tema fora apresentado em aula, em paralelo com outro (um centro de recreio de dimensões mais convencionais e programação e ela própria inventiva, por natureza.
O estudo do Centro de Olivais permitia outra abertura sobre a nossa realidade cultural e outra oportunidade – a de alargar horizontes compositivos à medida que se iam detectando as limitações económicas e jurídicas, rotinas administrativas e dos próprios projectistas, etc. que aqui e agora peiam uma arquitectura de «nova dimensão», integradora dos sucessivos escalões do planeamento.
Mas, por outro lado, apresentava-nos desde logo grandes riscos os quais eram, fundamentalmente, os que viriam da indeterminação programática (se se pensa ser «realista» mas não «conformado» com o stato quo) e da dificuldade em controlar adequadamente as diversas soluções pela mesma falta de dados seguros contra os quais se «checkasse» o processo evolutivo de cada aluno.
Não era a primeira vez – e não foi a última – que se deparou a grande contradição de querer lançar um grupo de alunos em aventuras reais, que os empenhassem na reforma da nossa cidade, e nos encontrarmos, ao longo das fases, perante frustrantes falhas de informação sobretudo ao nível do planeamento social e urbanístico.
Porque não era a primeira vez, a previsão destas lacunas, dificilmente ultrapassáveis com os meios didácticos disponíveis, foi confessada, inequivocamente, na primeira mesa redonda com a turma como o grande contra do tema proposto. A turma, avisada e, digo-o agora, avisadamente, optou, apesar de tudo, por ele. «Será um exercício em que a dificuldade em programar é desde logo um dado do programa», foi então dito. E não é esta uma situação tão alienada como pode parecer, antes constitui uma situação que surge cada vez com mais frequência em operações vastas que se têm de processar no tempo apenas ultrapassável com a articulação e equipas interdisciplinares que pressupõem por seu turno uma longa aprendizagem que o isolamento dos cursos de arquitectura em relação à universidade só contribui para retardar.
Exposição da necessidade e busca de informação relevante: Sobre a mesa , dispúnhamos inicialmente do plano, parcialmente concretizado, de Olivais-Sul; do «programa para a zona central» preparado pelo Gabinete Técnico da Habitação, que podíamos considerar base quantitativa suficientemente ponderada; dos primeiros estudos de inquérito por amostragem incidindo sobre a composição demográfica e ocupação dos jovens no Bairro, elaborados no mesmo GTH.
Marginalmente através dos grupos de trabalho formados, buscar-se-iam, a seguir, outros dados de confrontação, agora do Plano Director da Cidade: mapas referentes à distribuição dos diferentes equipamentos na cidade; esquemas de tráfego e das redes de transportes colectivos; algumas previsões de evolução demogreafico-social, etc.
Observação de informação estrangeira relativa a zonas centrais: O estudo por pequenos grupos incidiu sobre uma primeira escolha, relativamente diferenciada que abrange os planos de Hook e Cambernauld (centros britânicos da chamada 3. fase) Leicester (renovação da zona central com base num bem articulado estudo de tráfego) e centros direccionais italianos (significativos do método compositivo de «nova dimensão»). Traduziu-se em alguns textos de síntese e numa sessão de projecções comentadas para a presentação à turma pelas equipas responsáveis do estudo. Fruto desta secção a utilização, por quase todos os autores, do conceito de «comutador» de tráfego e de soluções multiniveis.
Primeira escolha de factores decisivos para a composição
Estudo dos problemas de circulação de e para a zona central e dela para a cidade; critica da localização proposta, em função dos esquemas de tráfego, e da zona de influencia do centro.
Com as propostas deste estudo, a turma decidiu que se desenvolvessem em paralelo soluções para o Centro de Olivais-Sul no terreno (A) e com a escala prevista no Plano GH (Arquitectos José Rafael Botelho e Carlos Duarte) enquanto outros alunos ensaiariam a alternativa (B) de alcance territorial mais vasto Olivais-Norte-Sul e renovação urbana da Encarnaçã. Gravura I
Estudo dos problemas de zonamento e antizonamento – árvores e semi-rectículas, segundo os critérios do ensaio de C. Alexander… tendo-se preparado uma pequena matriz de interacções entre os diferentes equipamentos previstos no programa do GTH que foi utilizada sem grande alteração
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Assim, ficará claro que as soluções não se propõem como as mais realistas para uma exequibilidade imediata – primeiro porque se lutou com excessiva falta de dados de programação, evolução dos consumos e custos de execução; segundo porque, como exercício didáctico se quis levantar um certo numero de condicionamentos, nomeadamente os relativos às quota-partes da intervenção do poder publico ou municipal, que aqui se sobrecarregam, e da iniciativa privada, com a qual a administração contará «naturalmente».
Mas penso que nas mesmas soluções, apesar dos saltos metodológicos a que nos vims, todos, forçados, se antecipam princípios de composição muito validos sejam ao nível da interpretação de finções; da articulação dos diferentes tipos de circulação; do lançamento de sistemas (malhas e faixas, colunas vertebrais de distribuição, etc.) que podem crescer aditivamente ou modificar-se sem perda de coesão; das preocupações de forma dos espaços e imagens à escala do bairro; de aproveitamento das condições topográficas; de urbanidade, em suma.
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in Revista Arquitectura, n. 103 (1968)
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