sábado, 1 de dezembro de 2007

O Falhanço dos Olivais (continuação)

Não está por isso aqui em causa o arrojo e singularidade das soluções urbanísticas que constituiram o bairro constituído por unidades de vizinhança, pela existência de vias de acesso particulares às casas e prédios que eram autónomas das vias de circulação, por um equilíbrio entre a rua, o quarteirão e a artéria, pela predominância de espaços verdes entre as habitações. O bairro projectado, mantendo toda a sua singularidade, tinha também proposto um núcleo central destinado a serviços. Esse núcleo chegou com grande atraso, como o sabemos. Nalguns comentários do post que referi fala-se de que esse atraso libertou o bairro de poluição, de intranquilidade. É uma perspectiva a somar àqueles que queria propôr. Há muito mais pontos por onde podemos discutir este tema, para o qual proponho três entradas:




1. Como é que este adiar da construção do núcleo central do bairro moldou a forma como nós vivemos os e nos Olivais?
Como é que nos organizámos para estar perto da cultura, seja do cinema, seja da música, seja do teatro, já que no nosso bairro não havia equipamentos capazes de atrair esse tipo de manifestações? E não haveria mesmo ou criou-se um modelo de comportamento que não valorizava as possibilidades culturais do bairro (o centro comercial dos Olivais teve um pequeno auditório que rapidamente foi desfuncionalizado, o Vale do Silêncio e os Olivais Velhos chegaram a servir de palco a concertos de música, houve cinema ao ar livre da Praça Salazar, o salão paroquial e as escolas chegaram a acolher espectáculos de teatro (entre outros exemplos), para além daqueles acontecimentos que decorrem da dinamização da vida associativa de colectividades de cultura e recreio )? E não falo da cultura no seu aspecto mais restrito, falo também em relação as espaços de convívio num bairro que fechou durante muitos anos às dez da noite, horário de verão. Como é que nós resolvemos os problemas criados por essa ausência de infraestruturas culturais? Como é que tirámos partido da predisposição do bairro para algumas actividades desportivas, quer dentro do bairro, quer nas proximidades (remo, vela, na doca do Poço do Bispo)? É claro que esse olhar retrospectivo tem de ter um entendimento mais abrangente sobre o que é cultura, que não aquele que deriva apenas das expressões artísticas e culturais mais tradicionais. Muitos dos posts aqui atrás já falam disso.
Proponho alguns marcadores comuns: Memórias do Olival (Cultura/Arte/Desporto/Lazer conforme o(s) aspecto(s) focado(s) ).


2. Que consequências é que o adiar da construção do núcleo central do bairro tiveram na organização territorial do bairro?
Essa é uma conversa a que seria interessante conseguirmos fazer participar também aqueles que trabalham a ciência do lugar edificado. Que consequências é que podem ter para o bairro a implantação, num espaço muito desfuncionalizado e desvalorizado, como era aquele pequeno enclave entre a rua cidade de bissau e a de bolama, onde durante muitos anos só houve uma escola pré-fabricada, um supermercado, hortas e armazéns abarracados e clandestinos, de um colosso como o é o Shopping Center (componente comercial e habitacional)? Múltiplos aspectos: a diferente densidade populacional daquele pequeno enclave e do bairro onde se integra, a diferente estrutura e organização urbanística do território.
Proponho também como marcador comum, a ideia do Xai-Xai : os Olivais no Estirador (que poderão ser subdivididos em categorias mais restritas)


3. O que é que se pode fazer para que esta mistura urbanística possa ter um desenlace harmonioso e favoreça o crescimento do bairro?
Entre uns Olivais nados num plano urbanístico cuidado, arrojado e com uma inteligibilidade que se tornou uma evidência comum (e que pode por isso ser defendido ou contra-atacado) com uns Olivais nascidos da especulação imobiliária, dos acrescentos (o último dos quais ocorre no próprio shopping que com tão poucos anos já teve de sofrer remodelações profundas), das modificações posteriores aos projectos discutidos e apresentados, o que se pode fazer? Mais mal que bem, estas alterações fazem também com que o bairro hoje tenha serviços que não tinha e dos quais carecia e - também por causa de toda a requalificação da zona oriental, e de novas redes de transporte - tem atraído o regresso de muitos dos que nele cresceram.
Proponho também um marcador comum: Olivais Vivos (que se pode subdividir em várias categorias também).


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